Ikotidiano

Uma carta antiga, uma dica importante.

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Cortar o cordão umbilical depois do nascimento é um dos desafios mais difíceis da maternidade. Mas, muito importante. Depois de três anos (Helena com 4 hoje) ainda sinto aquela dorzinha daquela noite descrita nesta carta e as vantagens por ter enfrentado o desafio. Por outro lado, ainda sinto a dificuldade de cortar de vez o umbigo, uma vez que me tornei 100% mãe nos últimos dois anos. Não há regras, há o equilíbrio entre o bom senso e o coração. Há, na prática, uma coisa a se fazer: ser persistente.

Sobre amor, medo e a vida

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Ela: Se você me ama mesmo, vamos fazer um pacto juntos – aqui e agora. Certo?
Ele: Certo.
Ela: Muito bem, repita comigo: eu vou ser livre.
Ele: Eu vou ser livre.
Ela: E eu vou ter coragem.
Ele: Eu vou ter coragem.
Ela: Ótimo, e a próxima é: eu vou viver cada dia como se fosse o meu último.
Ele: Essa é boa.
Ela: Você gostou? Então fala…
Ele: Eu vou viver cada dia como se fosse o meu último.
Ela: Fantasticamente e corajosamente.
Ele: Fantasticamente e corajosamente.
Ela: Com graça…
Ele: Com graça…

Um filme para ser visto. #ficadica

 

Ano Novo

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Para você ganhar belíssimo Ano Novo, cor de arco-íris, ou da cor da sua paz; Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido). Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior), novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas, nem parvamente acreditar que, por decreto da esperança, a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)

Carta: De repente

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De repente você passa a parecer diferente para todos; nada de corte ou tinta no cabelo, tampouco mais gorda ou magra.

De repente você passa a sentir medo de coisas das quais não sentia. Ao mesmo tempo é tomada por coragem e braveza inexistentes.

De repente você chora com mais frequência da mesma forma que não permite que a tristeza te abale.

De repente você se liga que não tem tempo para nada; que no seu relógio, o minuto dura 15 segundos. No mesmo tempo, você acha o segundo a mais para um carinho.

De repente você se dá conta de que não tem mais o controle remoto da TV e muito menos o remoto controle da vida.

De repente você tem certeza de que nada faz sentido sem aquela “pessoinha”, de que tudo que escreveu acima não tem importância.

De repente você lembra que 3 anos não foram de repente, mas foram, certamente, os 3 anos de mais aprendizado, troca e amor de nossas vidas.

De repente, achei uns minutos para escrever este breve texto e registrar o seu aniversário de 3 anos.

Aqui vai meu coração.

Mamãe

Reescrevendo Toy Story – uma sala e a árvore de Natal

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postToystory1Arrumar os amigos em fila não é mais prioridade. Eles já aprenderam que para ir no escorregador precisam esperar a vez. A torre de Lego fica cada vez mais alta; tanto a família Pig quanto os animaizinhos da floresta já a escalaram. Claro que o castelo não é só da princesa, até porque aqui há mais de uma princesa miniatura. Mas os 7 anões dominaram o ambiente a ponto das comidinhas e do mini fogão ficarem de lado, esquecidos. Quem foi para o ostracismo, também, foi a turma do Mickey – vez em quando, o Pateta aparece, pois é o preferido. Tempos dos anões mandarem em tudo, inclusive na música do piano da casa da Branca de Neve e dos Sete Anões. Minnie virou a rainha má do conto; o Pateta, o Rei. Pode? Ao som de Saltimbancos, ela dança. E toca. Ao fundo, é possível escutar uma corneta nada sutil, batuques de tambor, o pandeiro barulhento que ela ganhou de uma tia e notas suaves de um pianinho. “Olha mamãe, essa é a minha orquestra!” Eis que chegou dezembro, a sala ganhou a tão esperada árvore de Natal. Novos amigos chegaram: todo tipo de Papai Noel, renas, ursos, bonecos de neve etc. Tem também apetrechos como bolas, meias, trenós, estrelas, tudo iluminado. Este ano porém, a árvore ganhou uma novidade: duas princesas (Cinderela e Branca de Neve), com seus vestidos longos de caimento perfeito. Aqui nessa sala Toy Story seria muito divertido. Certeza que as princesas brigariam entre si, com ciúmes da roupa da outra e até tentariam roubar o príncipe de Lego – único exemplar numa população enorme de amigos. O Zangado arrumaria briga com todos os papais-noéis, à exceção do que fica em cima do piano que é roqueiro (bruto). Não poderia esquecer da Peppa que, com toda delicadeza, pegaria a carruagem da Cinderela para dar um rolê. No final da história, todos sentariam numa mesa para comer e brindar à vida, agradeceriam a Deus por tudo e seriam felizes para sempre, cantando a nossa música de todos os dias antes de dormir: “amo você, você me ama, somos uma família feliz. Com um forte abraço, um beijo te direi, meu carinho é pra você…” ❤

Ah o mundo da imaginação…

Convido a todos para uma viagem a esse mundo.

Carta: sobre ser incoerente; sobre ser mãe

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São Paulo, 20 de agosto de 2014.

Helena,

Você está crescendo, mas não só de tamanho, está se desenvolvendo muito. “Naturalmente, como todas as crianças”, diria qualquer um. Sim, é natural, eu sei. Não fosse pelas suas histórias, pelo seu jeito engraçado, carinhoso e sedutor não haveria graça nesta carta.

Há dias em que afirmo para você que você já está grande, mocinha, pois já come sozinha, se comporta bem, toma todo leite sozinha blábláblá. Porém, há dias em que eu sou obrigada a te dizer que você não pode fazer isso ou aquilo sozinha, porque você é pequena, ainda bebê. Você me olha de um jeito desconfiada, testa o limite, vê que não vai dar certo e respeita. Tenho certeza que você guarda aquela informação, de certa forma, contraditória e pensa: uma hora eu sou mocinha ou menina grande, outra hora eu sou criança pequena, bebê…

Imagino que toda mãe deve ser assim, meio, digamos, incoerente.

Ocorre que esse negócio de você crescer, passando pelos famosos terrible two, aliado à necessidade de te ensinar valores, de você aprender os limites e tudo mais, vai fazendo a mamãe virar uma mestre em incoerência.

Hoje, antes de você dormir, como sempre, li duas histórias (às vezes são três); você as ouviu atentamente, participou e até me corrigiu quando pulei uma parte para acelerar. Eu te elogiei e disse “muito bem, você está crescendo!” Você retrucou rapidamente: “mas eu não sou grandona como a mamãe ainda!”. De fato não é, um dia você vai ficar como a mamãe (juro que pensei: uhu, consegui!). Porém, depois, em nossa conversa antes de ir para cama, você me pediu algo curioso: “mamãe, amanhã vamos assistir futebol, vamos torcer para o Brasil!” Eu falei: “meu amor, a Copa já acabou, agora, só daqui a quatro anos, quando você estiver maior, não tão grande como a mamãe, mas já vai estar uma menina grande”. Você ficou pensando, pensando…

Sugeri que cantássemos a nossa música para ir para a cama e dizer boa noite. Você mandou: “não vou cantar a nossa música, não vou falar boa noite, a mamãe canta e fala boa noite para Helena… eu sou pequenininha….” :-)

Sim, você vai ser minha pequenininha grandona para sempre!

Aí vai meu coração,

Mamãe.

Carta: o verbo ensinar

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Helena,

Você me ensinou, ao longo desse 1 ano e 9 meses, que a vida não tem graça se a gente não cria relações em que haja dependência mútua. A verdade é que você depende de mim e eu dependo de você.

Você me ensinou que ser livre não é não ter nada que nos prenda à vida e sim, ter a liberdade de fazer escolhas com a sensação de pertencimento.

Você me ensinou a ter paciência…

Você me ensinou tudo isso sem querer.

Não é incrível?

O verbo “ensinar” significa passar (a alguém) conhecimentos práticos ou teóricos, instruções, informações sobre (matéria, assunto, arte, técnica, dúvida etc.); doutrinar, lecionar.

Isso me fez lembrar que semana que vem você terá o seu primeiro dia na escola – Maternal I. Você vai aprender muitas coisas; a professora Andreza (eu já a conheci) irá te ensinar muitas coisas. É, sem dúvida, uma nova fase nas nossas vidas.

Eu e o papai estamos muito felizes por isso e, mais ainda, estamos confiantes de que você irá gostar muito dessa nova fase. Mais do que aprender, você vai experimentar novas descobertas e novas relações. Creio que você irá me ensinar muito ainda. Acredito que nós duas temos muito que aprender uma com a outra.

Enquanto isso, aquele nosso momento – quando você vai dormir – em que eu te conto uma história cuja parte final tem o “soninho”(seu amigo que às vezes se atrasa um pouco porque pega trânsito) terá sempre o meu “obrigada” por você existir na minha vida. Hoje, antes de dormir, já no escuro, você cantou para mim: “amo você, você me ama, somos uma família feliz…”

 

Meu carinho é pra você.

Aí vai meu coração,

Mamãe.

(Foto: Fernanda Freixosa)

A chamada “melhor fase” (1 ano 8 meses)

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Naquela fase em que se escuta dezenas de palavras e frases completas, tudo sem o erre (r): cao, dumiu, caamba, oupa (roupa), aozo (arroz), pincesa, pínce (príncipe), oça (roça), quadado (quadrado)…

Naquela fase em que a energia está a mil; ela não anda, corre. Não para nem um segundo, nem quando esteve com febre por causa de uma virose há uma semana (a primeira em 1 ano e 7 meses).

Naquela fase em que se encaixa tudo, que deixa o Lego espalhado pela casa e a gente, às vezes, pisa.

Naquela fase em que aprendeu a dizer “não”, mas pela ascendência paraibana diz: qué não!

Naquela fase em que o grude é com a mamãe e não deixa o papai ficar no quarto quando vai dormir.

Naquela fase em que aprende tudo muito rápido e repete tudo que se fala em casa; já conta até dez, reconhece os números e as formas: triângulo, quadrado, círculo e o oval!

Naquela fase em que o lápis de cera fica inteiro menos de 10 minutos e todos pedacinhos ficam espalhados na sala. Aliás, lápis é uma das palavras mais gostosas que se ouve aqui: “tápis!”. Além dessa, claro, livro também é uma delícia; é com sotaque engraçado: “uivo”.

Naquela fase em que o amor é incondicional e eterno; que é a luz de nossas vidas.

Naquela que é chamada de “melhor fase”.

(Foto: Fernanda Freixosa)

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